segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A teoria da ação de Talcott Parsons

    Segundo Habermas (1987:217), não houve nenhum pensador entre os contemporâneos que conseguiu elaborar uma teoria da sociedade tão completa quanto  a de Parsons. O sociólogo começa a ganhar notoriedade com a publicação,  em 1937,  do livro A estrutura da ação social, no qual empreende  uma releitura da teoria social clássica a partir das obras de Alfred Marshall, Max Weber, Vilfredo Pareto e Émile Durkheim. O objetivo era produzir uma síntese teórica de grande envergadura capaz de unificar o campo das ciências sociais.  
O conceito de ação social é o ponto de partida da construção teórica parsoniana que, em princípio, põe em evidência seu caráter voluntarista. Nesse sentido, os indivíduos agiriam racionalmente, lançando mão dos recursos disponíveis para  alcançar certos objetivos. Assim,  as ações não estariam circunscritas a um determinismo social absoluto, como preconiza, por exemplo,  o funcionalismo  durkheimiano.  Todavia, embora não sejam  absolutamente determinadas, as ações seriam resultantes de orientações previamente recebidas pelos atores no decurso de suas vidas, começando pelo processo de socialização que tem início na infância. Essas orientações são voltadas para diferentes tipos de objetos, em situações específicas, que Parsons classifica em três categorias distintas:

The situation is defined is consisting of objects of orientation, so that the orientation of a given actor is differentiated relative to the different objects and classes of them of the which is situation is composed. It s convenient is action to classify the object word as composed of the tree classes of “social”, “physical”  and “cultural” (PARSONS, 1951: 3)


Os objetos sociais dizem respeito ao próprio ator que interage tendo como referência a si mesmo (ego) e os outros (alter) enquanto indivíduos ou coletividades.  Os objetos físicos, embora não respondam ao ego de forma interativa, são alvo das orientações dos atores  como recursos ou condições para a ação. Por fim,  os objetos culturais que são, primordialmente, o conjunto de símbolos, idéias, crenças que os indivíduos assimilam de tal forma que ajudam a compor a estrutura da  personalidade.  Vale ressaltar que quando o ator social encontra-se numa situação em que a ação é orientada para alter, o conjunto de expectativas referentes aos resultados da ação envolve também a antecipação de possíveis reações do outro. A antecipação só é possível porque os atores interagentes estão imersos numa rede de significados que faz parte do complexo simbólico da comunidade societária[1].
O grande dilema parsoniano se manifesta nos desdobramentos de sua teoria da ação. A preocupação com a questão da ordem e da estabilidade, bem como sua postura político-ideológica impõem limites à sua concepção voluntarista da ação.  Segundo Habermas (1987), Parsons não conseguiu elaborar a partir da sua teoria da ação um conceito de sociedade que fosse coerente com sua postura, daí ele ter apelado para a teoria dos sistemas, comprometendo, desse modo, a perspectiva weberiana que o próprio Parsons fez questão de afirmar como predominante na sua obra. Colocando em evidência o paradoxo derivado da tentativa de síntese de Parsons, Correia explica que:

Parsons considerou que as unidades básicas do sistema de acção social eram os actos, tal como as partículas eram as unidades do sistema mecânico clássico. Um acto era logicamente composto por um actor, o seu agente; um fim; [...] a situação em que o actor age, e que difere nalguns traços básicos do estado de coisas para o qual a acção é orientada, o fim. Duas consequências provinham desta forma de pensamento: em primeiro lugar, resultava daqui que a acção implicava um determinado esforço, uma vez que um fim é sempre um estado de coisas futuro relativo à situação actual o qual só pode ser realizado graças à ultrapassagem de determinados obstáculos supervenientes. Por outro lado, uma acção assim considerada parecia só poder resultar, primordialmente, do ponto de vista subjectivo do autor. Trata-se de uma particularíssima análise do ponto de vista subjectivo que jaz no próprio coração da teoria voluntarista parsoniana. A verdade, porém, é que, conforme se viria a verificar, a importância conferida à norma matizava a importância dada ao actor (CORREA, 2003: 11-12).

Ao esquematizar a ação social no contexto da teoria dos sistemas,  Parsons opta por dar   preeminência às estruturas em detrimento da liberdade dos atores sociais. As ações,  assim,  seriam apenas reflexos dos padrões sócio-culturais  que foram  sendo internalizados durante a sua  formação, possibilitando, dessa maneira,  a ordem social.  Nesse sentido, a  síntese pretendida por ele se perde diante da necessidade de enfatizar a tendência que a sociedade tem para o estabelecimento da  ordem. Habermas (1987) critica a perspectiva sistêmica de Parsons afirmando que ela não é capaz de explicar as patologias do mundo moderno por estar fundada numa visão extremamente harmônica e estática da sociedade.  



[1] A comunidade societária é apresentada por Parsons (1974) como um subsistema integrador, cuja função mais geral é articular um sistema de normas com uma organização coletiva que tenha unidade e coesão.
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Referências Bibliográficas:
CORREIA, João Carlos. Fenomenologia e teoria dos sistemas: reflexões sobre um encontro improvável. In: Revista Filosófica de Coimbra.  vol. 12, n.º 23,  Março de 2003, pp. 181-213
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la acción comunicativa II – crítica de la razón funcionalista. Madri: Taurus, 1987.
PARSONS, Talcott. The Social System. Glencoe, IL: Free Press, 1951.
______.O sistema das sociedades modernas. São Paulo: Pioneira, 1974.
QUINTANEIRO, Tania; OLIVEIRA, M. G. Labirintos simétricos - Introdução à teoria sociológica de Talcott Parsons. 1.ed. Belo Horizonte: UFMG, 2002.

5 comentários:

CARMEM S M ROCHA disse...

Excelente resumo! Obrigada, Carmem.

Janete Rodrigues disse...

Eu que agradeço sua visita Carmem. Espero que volte mais vezes.

Abraço,

Janete

Fraga disse...

Muito bom resumo. Legal!

Aline disse...

Parabéns Janete!! Obrigada!! Abração1!

Aline disse...

Parabéns Janete!! Obrigada pelo auxílio aos nossos estudos!