Coerência definitivamente não está entre as características que constituem o indivíduo contemporâneo que, embora seja reflexivo, como afirmou Giddens, não está preocupado em defender posturas e idéias que mantenham um encadeamento lógico. Sua reflexividade exprime-se especialmente por meio da constante capacidade de adaptação que o acelerado ritmo das mudanças sociais exige. Portanto, pode-se dizer que é uma reflexividade pragmática. Entretanto, um problema surge quando essa despreocupação com a coerência atinge a academia e, como consequência, aparecem construções teóricas que são, na verdade, legítimos balaios pseudo-intelectuais. Alguns escritos do filósofo Luiz
Felipe Pondé exemplifica bem o que quero dizer. Seus textos, publicados em uma coluna na Folha de São
Paulo, resultam, particularmente, da mistura de pensamento
liberal-burguês com uma postura misógina, no melhor (ou pior) estilo de Nietzsche.
É evidente o incômodo do filósofo com as transformações sociais que
promoveram um reposicionamento da mulher na sociedade contemporânea. Não há
nada errado com isso. Afinal, todos nós, um pouco menos alienados, estamos sentindo o
desconforto de vivermos num tempo de transição. As respostas não são tão óbvias e as escolhas não são
fáceis. Contudo, não é porque estamos inseguros que vamos sair por aí bradando
como fanáticos, impondo aos outros nossa visão de mundo. E, no caso de Pondé, que foi seriamente
afetado pela crise da masculinidade que vitima o homem contemporâneo, o mundo deveria voltar a ser o que era, ou
seja, o sexo masculino dominando e o feminino sendo dominado. E tudo muito bem organizadinho: os homens de
sucesso casados com as mulheres bonitas, que jamais poderão deixar de ser
bonitas porque senão estarão dando motivo para serem trocadas por outras; os homens fracassados casados com as mulheres
feias e, estes, nutrindo ódio e inveja daqueles que estão no topo da hierarquia
humana defendida pelo filósofo
Para Pondé, o mundo é estruturalmente desigual e ser contra isso é se
submeter ou se aliar à “ditadura dos ofendidos”. Temos
que aceitar, como cantava Tim Maia “que um nasce pra sofrer enquanto o outro ri”.
Perspectiva fatalista a serviço dos
dominantes. Não há nada que eles desejem
mais do que a conformação dos humilhados. E o mais grave de tudo isso é tentar legitimar
teologicamente essa postura citando Cristo. Este jamais foi conformista. Contestou
o poder instituído e os padrões sociais da sua época. Lidou com as mulheres de
um modo que os homens daquela sociedade jamais ousariam. Portanto, se Pondé quer
defender seu ponto de vista androcêntrico, que o faça, mas que sustente sozinho
suas baboseiras, Jesus não tem nada
a ver com elas.
2 comentários:
Bandé não chega a este lado do oceano, muito menos para cá dos Alpes, ainda que não deixe de ser interessante analizar a sua cosmovisão, quanto muito para dar azo a respostas inteligentes. Aprecio especialmente o humor subtil tão presente, a lembrar Eça de Queiroz. Brilhante Janete.
Abraço
Orlando
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