Confesso que procurei resistir bravamente à tentação de falar sobre esse tema, mas, como podem perceber, fui vencida. Certo incômodo que tomou conta de mim nos últimos tempos é o principal responsável por eu estar aqui tratando, também, do assunto mais debatido na história da humanidade. Não tenho a pretensão de chegar a nenhuma conclusão definitiva sobre a questão (isso seria o cúmulo da presunção), meu intuito é, sobretudo, compreender melhor as mudanças na forma como as pessoas se relacionam no nosso contexto histórico-cultural.
Penso ser de uma inutilidade absurda fazermos comparações entre períodos históricos distintos, sentenciando que um foi melhor em detrimento do outro. Digo isto porque é comum ouvirmos pessoas que se referem ao passado exaltando supostas qualidades que se perderam no decorrer do tempo. Geralmente concluem afirmando que os dias estão cada vez piores. O fato é que todas as épocas têm seus próprios males, simplesmente porque nós, seres humanos, somos especialistas em produzir males. Como posso eu, como mulher, dizer que era melhor viver sempre como cidadã de segunda classe como ocorria de modo acintoso num passado recente? É óbvio que ainda não há equivalência de direitos, contudo, já avançamos bastante. Esse exemplo é só para esclarecer que não é minha intenção estabelecer parâmetros valorativos entre a sociedade contemporânea e outras formas de organização social. Como socióloga, restrinjo-me a tratar do passado apenas como meio para entender o presente, meu foco é sempre os problemas sociais que enfrentamos na atualidade. Entre esses problemas, destaco a forma como as relações são construídas e rapidamente desfeitas nessa sociedade que cultua o modo Sex and the city de viver.
Zigmunt Bauman, sociólogo polonês, observa, em seu livro Amor líquido, que os vínculos que desenvolvemos, de forma geral, são frágeis. Essa é conseqüência previsível da ênfase que a ideologia liberal põe sobre o indivíduo. Com a modernidade aprendemos a nos colocar sempre em primeiro lugar, “são os meus interesses, desejos e vontades que preciso atender antes de tudo”. Numa sociedade assim, qual o lugar do amor? C. S. Lewis, em Os quatros Amores, faz uma distinção entre dois tipos de amor. O primeiro é o amor-doação, caracterizado pelo altruísmo, ou seja, capacita-nos a pensar no outro antes nós mesmos. O segundo tipo é o amor-necessidade que nos faz buscar o outro para suprir nossas próprias demandas. O amor-necessidade cumpre a função importante de nos direcionar para o próximo num sentimento de dependência. O grande problema é quando ele se sobrepõe ao amor-doação. É exatamente isso que acontece na sociedade atual, daí a facilidade com que se desfazem os laços humanos. É difícil manter uma relação na qual cada um pensa apenas no seu próprio bem estar, acrescenta-se a isso o agravante de que todos nós temos demandas existenciais que jamais serão supridas por outra pessoa, por mais cheia de qualidades que ela seja.
O que vemos hoje é a celebração da superficialidade, dos amores falsos e efêmeros, da vida descompromissada. Entretanto, isso serve apenas para tornar ainda mais evidentes nossa solidão e carência. No fundo, o que a maioria anseia é pela oportunidade de encontrar alguém que lhe ofereça e a quem possa oferecer, sem medo, a chance de um relacionamento duradouro. O grande empecilho que cada um enfrenta, todavia, é o próprio egoísmo, já que toda relação para se manter exige esforço, concessões de ambas as partes e, não menos importante, a consciência de que uma relação jamais poderá ser constituída apenas de “puro prazer”.
Apesar do quadro negativo descrito, acredito ainda que há possibilidades de encontros verdadeiros, de reconhecimento mútuo. No entanto, creio que esse é um privilégio reservado somente para aqueles que de alguma maneira aprenderam a ver mais do que aquilo que é aparente nas pessoas. É lá, nesse lugar oculto à primeira vista, que encontramos as qualidades que podem suscitar em nós a vontade de estarmos próximos de alguém para sempre.
O que vemos hoje é a celebração da superficialidade, dos amores falsos e efêmeros, da vida descompromissada. Entretanto, isso serve apenas para tornar ainda mais evidentes nossa solidão e carência. No fundo, o que a maioria anseia é pela oportunidade de encontrar alguém que lhe ofereça e a quem possa oferecer, sem medo, a chance de um relacionamento duradouro. O grande empecilho que cada um enfrenta, todavia, é o próprio egoísmo, já que toda relação para se manter exige esforço, concessões de ambas as partes e, não menos importante, a consciência de que uma relação jamais poderá ser constituída apenas de “puro prazer”.
Apesar do quadro negativo descrito, acredito ainda que há possibilidades de encontros verdadeiros, de reconhecimento mútuo. No entanto, creio que esse é um privilégio reservado somente para aqueles que de alguma maneira aprenderam a ver mais do que aquilo que é aparente nas pessoas. É lá, nesse lugar oculto à primeira vista, que encontramos as qualidades que podem suscitar em nós a vontade de estarmos próximos de alguém para sempre.
LEWIS, C. S. Os quatro amores. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
3 comentários:
BOM DIA!!
Infelizmente tenho que concordar com o que foi dito nesta postagem.Recorrendo a Palavra de Deus, podemos meditar qual a definição do Amor, e em Coríntios 13, todas as definiçoes do amor se resumem em um comportamento e não em um sentimento, os sentimentos de amor talvez possam ser a linguagem do amor, mas não são o que o amor é. “O amor é o que o amor faz”.rsr*Concordam?
A pessoa de Jesus, síntese perfeita entre o humano e o divino, deve ser o referencial para perceber que esse amor não é impossível aos seres humanos habitados pelo Espírito de Deus. Que Ele venha nos ensinar a amar!
Amém...
PARABÉÉEEEEEEENS!!!!!!!!!!!!!!
Beijos!!
Janete, gostei muito do seu blog e, se me permite, passo a acompanhar os seus textos com interesse. Obrigado pelo link já devidamente retribuído.
Janete, quando adicionei o link para seu blog ele foi alterado para o seguinte endereço: http://feedjit.com/
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