quinta-feira, 31 de março de 2011

Joaquim Nabuco: a escravidão como entrave ao progresso moral e econômico do Brasil



             Com seu mais renomado livro, O abolicionismo,  Joaquim Nabuco  traz para o centro do debate o problema da  escravidão,  não como um fenômeno entre outros, mas como fator elementar  na formação da sociedade brasileira. A obra representa o ápice da militância do autor contra  o escravagismo que, segundo ele, atravancava o progresso moral e  econômico do Brasil
O livro tem início com uma breve reconstrução histórica das posições contrárias à escravidão.  A primeira oposição nacional é direcionada ao tráfico e cristaliza-se na Lei Eusébio de Queiróz em 1950.  O discurso que sustenta essa primeira ação  era de que sem negros para serem negociados, o sistema escravocrata,  no decurso do tempo, enfraqueceria até ser extinto.  A essa primeira medida seguiu-se a resolução de que os traficantes deveriam ser deportados.  Segundo Nabuco, foram medidas menores para conter os ânimos dos partidários da abolição. Depois de um período de calmaria,  começa em 1866 um novo período de pressões pró-abolicionismo. Isto fez com que em 28 de setembro de 1871 fosse promulgada a Lei do Ventre Livre. Novamente o Estado conseguiu acalmar os ânimos e o período subseqüente foi de indiferença em relação à sorte dos escravos. Após oito anos de apatia,  um grupo de parlamentares, entre eles, o próprio Joaquim Nabuco, inicia uma campanha para acabar de vez com o  mal que, conforme as palavras do autor, degrada a nação toda. 
             O desafio maior para a causa abolicionista consistia no fato de que os escravos eram reféns dos seus senhores e, estes, por sua vez, dependiam completamente dos escravos.  O trabalho proposto  era o de tentar  conciliar os  dois grupos a fim de que ambos fossem preservados do melhor modo possível. O apelo dos abolicionistas não é dirigido aos cativos, justamente para evitar insurreições. Para Nabuco, a mudança poderia ocorrer sem os traumas provocados por um confronto direto, por isso, seu apelo é dirigido, sobretudo, às instituições política e religiosa  e seus representantes, em cujas mãos estava o poder para promulgar a abolição e fazer valer o direito à cidadania dos povos negros no Brasil. 
 É particularmente significativa a percepção de Nabuco em relação ao papel da  Igreja Católica.   Para ele, a Igreja, do modo como estava estabelecida,  com seu clero secular, caracterizava-se por uma total submissão aos interesses dos senhores de terra.  Entre as piores conseqüências desse catolicismo a serviço dos dominantes, está o esvaziamento do sentimento verdadeiramente religioso. Ora, se a Igreja, fiel representante de Deus, não via problema  nas atrocidades  cometidas contra os  escravos, se ela mesma se encarregou de tecer justificativas para a escravidão, dificilmente os escravagistas enfrentariam qualquer  dilema ético concernente aquela situação
Vale salientar que a preocupação de Nabuco vai além do abolicionismo, ele previa os problemas sociais que poderiam advir da libertação dos escravos se não fossem lhes dadas as condições necessárias para sobrevivência. Problemas que seriam enfrentados, primeiramente, pelos  contemplados pela Lei do Ventre Livre  que, apesar da alcunha de libertos, ficariam no cativeiro até completarem 21 anos, sendo, por conseguinte, negado-lhes o direito de receber uma formação  longe das senzalas.
Citando o discurso de Eusébio de Queiróz,  Nabuco põe em evidência  a primazia que sempre fora dada às questões econômicas em detrimento das questões morais. O tráfico só foi suprimido por causa da pressão da Inglaterra, pois seria mais vantajoso ter esse país como aliado do que como inimigo. Portanto, a persistência do sistema escravocrata deve-se, acima de tudo, a  um acordo tácito entre  as partes (políticos, religiosos, pessoas do povo)  de que esse era o caminho econômico mais viável para o  Brasil. Assim, a tentativa de persuasão de Joaquim Nabuco não restringiu-se  a denunciar a  imoralidade da escravidão, ele procurou enfatizar também o atraso econômico e o obstáculo ao progresso como conseqüências  desse  sistema.
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Referências Bibliográficas:
NABUCO, Joaquim. O abolicionismo. Brasília: Conselho Editorial, 2003.



8 comentários:

Hélio Pariz disse...

Excelente texto, Janete!

Obrigado por compartilhá-lo conosco. Peço sua autorização para republicá-lo no meu blog, dando o devido crédito a você, obviamente.

Abraços!

Janete Rodrigues disse...

Olá Hélio, é claro que pode republicar o texto no seu blog, sinto-me honrada. Obrigada pela visita.

Abraço,

Janete

Patrícia disse...

Muito bom, amiga! :-) Beijos!

Janete Rodrigues disse...

Oi Pat, minha amiga, fico muito feliz com sua visita. Espero tê-la outras vezes por aqui.

Beijos,

Janete

Janaina Cruz disse...

Olá Janete, que bom encontrar o seu blog, cursei faculdade de história, mas não preparei monografia, hoje em dia faço serviço social, essa pretendo terminar! rs

Paguei recentemente uma cadeira de história, e cada vez que navego no mar da nossa história tenho uma noção maior de como os livros nos contam coisas que na realidade nem chegaram a existir, é através de relatos de pensadores isolados que podemos comprar e averiguar o mais ou menos como se processou a história.

No início do século em que a cana de açúcar começou a prosperar no Brasil, os europeus demonstraram seu maior etnocentrismo, causando uma verdadeira eugenia por mais de 388 anos em nosso país.

E fico ainda sem saber se a igreja era submissa aos senhores de terras, ou se a cruz era quem matava mais do que a espada...

Abraços e uma ótima semana pra ti.

Janete Rodrigues disse...

Olá Janaína, a relação Igreja e Estado no Brasil, à época do período colonial, é melhor compreendida a partir do Regime de Padroado. Nesse sentido,o catolicismo que se estabeleceu no Brasil caracterizava-se por uma total submissão ao governo civil que, por sua vez, era a expressão instituicionalizada dos interesses daqueles que detinham o poder econômico. Em síntese, no caso específico da sociedade brasileira (como Weber, acredito que isso não se aplica a todas as sociedades) vale o prognóstico de Marx de que o condicionamento econômico predominou sobre todos os outros. Agradeço muito sua visita.

Abraço,

Janete.

Gustavo disse...

Olá, Janete. O Hélio havia comentado comigo que você era de Goiânia também, e que tinha gostado de seu texto... Então resolvi passar aqui para prestigiá-la, e agradecer por compartilhar este texto conosco.

Janete Rodrigues disse...

Olá Gustavo, é verdade, sou de Goiânia, embora esteja morando em Brasília há um ano. Mas, sempre que posso, estou em Gyn. Obrigada pela visita.

Abraço,

Janete.