quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Quando a vida é uma droga



Entre os problemas que a sociedade contemporânea enfrenta ganha destaque o crescimento do número de pessoas que fazem uso não medicamentoso das drogas. Apesar de todas as políticas repressivas do Estado, dos discursos conservadores que aliam o problema da drogadição à fraqueza moral e todas as conseqüências ruins que os próprios consumidores experienciam na suas vidas e nas de outros usuários, os dados apontam um avanço alarmante que, para alguns estudiosos*, indicam que o problema tem assumido proporções epidêmicas, particularmente, no que diz respeito à rápida popularização do crack. Inicialmente usada por pessoas das camadas mais baixas por ser uma droga relativamente barata e potente, seu consumo tem aumentado entre pessoas das classes médias. Esse aumento é justificado pelo efeito que provoca, muito mas intenso do que a cocaína, a droga de efeito estimulante preferida dos jovens com mais recursos.
Se a “onda” que o crack promove é potente, sua capacidade de viciar também é poderosa, daí ser hoje  uma séria questão de saúde pública. No entanto, o número sempre crescente de dependentes revela que o problema não está sendo tratado de modo eficaz. Medidas repressivas e discursos moralizantes não surtem os resultados esperados, antes, constituem uma forma reducionista de lidar com a questão.
Ora, se o número de dependentes cresce, não podemos dizer que esse é um problema individual, ou seja, não devemos responsabilizar somente os indivíduos, como se a opção pelas drogas fosse uma escolha absolutamente pessoal. É pessoal, mas é também resultante de problemas estruturais. Alguns podem argumentar que seriam problemas estruturais quando o consumo está relacionado à pobreza, à ausência de perspectiva em decorrência dessa pobreza e que, portanto, indivíduos que não vivem sob essas condições fazem uma opção livre de qualquer pressão social externa. Todavia, quando falamos de problemas estruturais isso vai muito além da escassez material. Referimo-nos a uma sociedade em transição, com crise de paradigmas, perda de referenciais, aliando-se a isso, uma indução incessante ao consumo e ao prazer.
Estamos vivendo um tempo marcado pela frouxidão institucional. Família, escola, religião e trabalho perdem, gradativamente, sua força normativa e o indivíduo liberto da tutela destas instituições precisa encontrar novo sentido e novas formas de adequação social. Ele está entregue a si mesmo, isso traz como implicação a exigência de que “sou eu” sozinho que preciso encontrar significado para minha vida. Nos discursos reducionistas, sobre as causas que levam uma pessoa a se tornar um dependente químico, prevalece o argumento de que é  fraqueza,  desejo de fuga,  medo de encarar a realidade que impulsionam os indivíduos ao uso não medicamentoso das drogas.
Acredito, como afirmou o antropólogo Eduardo Viana Vargas (2006), que o que os usuários de fato buscam, ainda que modo equivocado, é justamente um modo de não desistir. Dessa forma, é como se as drogas conferissem, de certa maneira, uma razão para sua existência. Assim, políticas públicas que as percebem apenas de modo negativo não são capazes de atingir com eficiência o âmago do problema, ou seja, se a droga tornou-se um caminho para os dependentes, a função do Estado e da sociedade civil é mostrar caminhos melhores e, se eles são poucos, temos um grande trabalho de construção pela frente.

* Entre esses estudiosos o psiquiatra Sérgio de Paula Ramos In: http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp?cod_noticia=12382&cod_canal=41 VARGAS, Eduardo V. Uso de drogas: a alter-ação como evento. In: Rev. Antropol. vol.49 no.2 São Paulo July/Dec. 2006



4 comentários:

Anônimo disse...

Olá Janete; meus parabéns pelo blog, gostei bastante, estarei acompanhando.

Abraços Marco

Unknown disse...

Olá! Concordo com essa visão. Descrevendo de maneira simples as drogas funcionam como uma espécie de suplência diante de uma realidade insuportável para o sujeito. Elas tiram o sujeito da realidade, que para eles é muito dura.
Beijos de sua maninha!

Alexandre Malmann disse...

Olá Janet. Agora somos amigos pelo BlogBlogs. Já te sigo!
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AGNALDO JÚNIOR disse...

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