domingo, 20 de maio de 2012

Movimento neopentecostal e neoesoterismo: um enfoque sob o paradigma da orientalização do Ocidente*


          O neopentecostalismo, com sua ressignificação dos conteúdos da fé cristã, é apontado por estudiosos (Freston, 1994; Velho, 1997; Sanchis, 1997) como o fenômeno que mais tem contribuído para a reconfiguração do campo religioso brasileiro. Para explicar o avanço das igrejas neopentecostais, pesquisadores ressaltam alguns aspectos que fazem com que esse movimento seja tão atrativo na disputa por consumidores de bens e serviços religiosos. Entre esses aspectos estão: a adequação de seus conteúdos à lógica do mercado, o utilitarismo, que conferiria a essas igrejas características das religiões de magia, e a espetacularização dos cultos (Mariano, 1995; Prandi, 1997; Campos, 1997).
              Todos esses aspectos são facilmente observados em um trabalho de campo, entretanto, acredita-se que eles resultam, particularmente, da mudança, enunciada por Campbell (1997), que ocorre na própria essência da teodiceia cristã, como consequência de um processo de orientalização do Ocidente. Nesse sentido, o neopentecostalismo se afasta da ortodoxia cristã tradicional e assimila conteúdos das tradições religiosas do Oriente.
              A Confissão Positiva e seus desdobramentos seriam os sinais mais explícitos dessa transformação que Fonseca (1998, p. 7) chama de “Nova Era Evangélica”.
              Ao se afastar da ortodoxia do protestantismo dos reformadores, o neopentecostalismo segue a tendência de uma vivência religiosa que, segundo Simmel (1997), é mais convergente com o processo de individualização desencadeado pelas transformações que dão o contorno do mundo moderno. Considerando que a individualização traduz-se, entre outras coisas, em autonomia e emancipação, é de se esperar que a vivência religiosa pautada pela crença em um Deus transcendente e soberano, cuja vontade se sobrepõe a todas as outras, perca espaço para uma concepção de divindade que não ameaça a posição de centralidade conquistada pelo ser humano, agora sujeito de si e da história.
              Se a emergência do movimento neopentecostal evidencia uma tendência religiosa antropocêntrica, em contraposição ao teocentrismo do cristianismo tradicional, a chegada e o avanço de religiosidades de cunho oriental confirmariam tal tendência. Embora pareçam incipientes no ranking das religiões fornecido pelo IBGE, Deis Siqueira (2003) argumenta que essas religiosidades, cuja expressão mais popular é o multifacetado movimento New Age[1], vêm obtendo êxito significativo no campo religioso brasileiro, sinalizando que o Brasil não passou incólume pela onda de orientalização religiosa verificada primeiramente em países da Europa.            
                   Portanto, tendo como ponto de partida a tese de Campbell (1997) de que o Ocidente está sendo orientalizado, o objetivo aqui é apresentar indicativos de que o neopentecostalismo e as religiosidades de cunho oriental, doravante denominadas também de  neoesotéricas[2], possuem similaridades que evidenciam que ambos estão em total conformidade com as demandas existenciais típicas da sociedade contemporânea; daí o êxito na disputa por consumidores de bens de salvação.
              Como casos representativos das vertentes citadas, privilegia-se como lócus do trabalho de campo a Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) e a instituição religiosa Perfect Liberty (PL). A opção pela Iurd foi determinada não apenas por ser a denominação neopentecostal que mais cresce, mas também porque possui algumas especificidades que a tornam bastante representativa do gênero.
              Entre tais especificidades, chama a atenção o sincretismo evidenciado por meio da apropriação e ressignificação de elementos simbólicos de outras religiões e de superstições populares.


[1] Magnani (1999, p. 10) afirma ainda que o movimento New Age, que ele prefere denominar como movimentos neoesotéricos, compreende orientações religiosas não oriundas apenas de tradições orientais, mas também do “encontro da ciência contemporânea e antigas cosmologias, das tradições indígenas e novas propostas ecológicas”.
[2] Utiliza-se aqui a terminologia que se considera mais adequada. Existe uma grande variedade de conceitos para se referir ao mesmo fenômeno social. Magnani (1999) opta por “neoesoterismo” para aludir às religiosidades heterodoxas que, entre outras influências, sustentam-se nas cosmologias orientais.
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*O texto acima é apenas a parte introdutória.  Para ler o artigo completo, acessar  http://www.fflch.usp.br/ds/plural/ed_18_2.html

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