As perspectivas sociológicas se voltam para a análise do comportamento que se desvia das normas prescritas. Observar a freqüência do comportamento desviado e porque o desvio tem diferentes formas e moldes em estruturas diferentes. Segundo Merton, a infração dos códigos constitui uma reação “normal”. Seu trabalho consiste em tentar esclarecer esse problema e proporcionar um enfoque sistemático da análise das fontes sociais e culturais do comportamento transviado.
Objetivo Principal: Como algumas estruturas sociais exercem uma pressão definida sobre certas pessoas da sociedade para que sigam uma conduta não conformista.
Padrões de metas culturais e normas institucionais
Dois elementos importantes das estruturas sociais e culturais:
- Objetivos culturalmente definidos, de propósitos e interesses, mantidos como objetivos legítimos para todos, ou para membros diversamente localizados na sociedade.
- Elemento da estrutura social que define, regula e controla os modos aceitáveis de alcançar os objetivos. As normas institucionalizadas limitam a escolha dos meios para atingir as metas culturais.
- A ênfase cultural dada a certos objetivos varia independentemente do grau de ênfase dos meios institucionalizados.
Há um problema de má integração cultural quando objetivos particulares se sobrepõem aos meios institucionalizados e, portanto, socialmente aceitos para alcançá-los. Nesse sentido, a eficiência técnica se torna mais importante do que os meios institucionalizados. Por outro lado, o total conformismo com o que está posto pode gerar estagnação. A sociedade é limitada pela tradição “sagrada” marcada pela neofobia. Esse tipo de sociedade é integrada e relativamente estável.
O equilíbrio seria o total ajustamento das satisfações proporcionadas aos indivíduos às pressões culturais provenientes da realização de objetivos, satisfação derivada também da forma de esforço para atingi-los.
Hipótese do autor: O comportamento desviado pode ser considerado sociologicamente como um sistema de dissociação entre as aspirações culturalmente prescritas e os meios estruturalmente proporcionados para realizar essas aspirações.
A cultura norte-americana é apontada como exemplo de sociedade que põe ênfase nos objetivos, sem a ênfase equivalente nos meios institucionalizados. O êxito financeiro é supervalorizado, e o indivíduo é levado a crer que todos podem alcançar o sucesso.
A cultura norte-americana impõe a aceitação de três axiomas culturais:
- Todos devem se esforçar para atingir os mais elevados objetivos, já que estão á disposição de todos. Psicologicamente, reforço simbólico do incentivo. Sociologicamente, desvio da crítica da estrutura social para o próprio indivíduo.
- O aparente fracasso momentâneo é apenas uma estação no caminho do sucesso final. Psicologicamente, um freio à ameaça de extinção da reação mediante um estímulo associado. Sociologicamente, preservação de uma estrutura de poder social pela identificação dos indivíduos dos estratos inferiores não com seus pares, mas com aqueles que estão no alto.
- O verdadeiro fracasso consiste apenas na diminuição ou retirada da ambição. Psicologicamente, aumento da força impulsora para responder constantemente ao estímulo, apesar da continuada ausência de recompensa. Sociologicamente, atuação de pressões culturais favoráveis à conformidade com ditames culturais de ambição irreprimível. Os acomodados podem ser considerados como não pertencentes à sociedade.
Como reagem os indivíduos que vivem nesse contexto cultural?
Tipos de adaptação individual
Merton considera cinco tipos de adaptação:
- Conformidade – Em sociedades estáveis, a conformidade é o tipo de adaptação mais difundido. Os padrões estabelecidos são amplamente aceitos pelos membros.
- Inovação – A ênfase cultural sobre os objetivos estimula este modo de adaptação através de meios institucionalmente proibidos, mas freqüentemente eficientes para atingir pelo menos o simulacro do sucesso- riqueza e poder. O mérito está em se dar bem, por conseguinte, fica minimizada a distinção entre os meios legais dos costumes, dos meios espertos. As maiores pressões para o comportamento transviado são exercidas sobre as camadas inferiores, pois, estas, não têm acesso aos meios legais para atingir as metas. Assim, vícios e crimes constituem uma reação “normal” contra uma situação em que a ênfase cultural sobre o sucesso pecuniário tem sido assimilada, mas onde há pouco acesso aos meios legítimos para que uma pessoa seja bem sucedida. Os conscientes podem assimilar outro modo de adaptação: a rebelião. Há ainda àqueles que recorrem às justificações místicas, tais como a doutrina da sorte, que cumpre dupla função: explicar a freqüente discrepância entre mérito e recompensa ao mesmo tempo que conserva imune da crítica uma estrutura social que permite tal discrepância.
- Ritualismo – As regras institucionais são seguidas quase que compulsivamente. Baixo nível de aspiração derivado do medo de fracassar.
- Retraimento – Rejeição dos objetivos culturais e meios institucionais. É a mais incomum forma de adaptação. Pessoas adaptadas (ou mal adaptadas) desse modo estão na sociedade, mas não são da sociedade, pois não compartilham da escala comum de valores. Ex: artistas, psicóticos, párias, proscritos, drogados.
- Rebelião – Esta adaptação leva os homens que estão fora da estrutura social circuncidante a encarar e procurar trazer à tona uma estrutura social nova. Pressupõe o afastamento dos objetivos dominantes e dos padrões vigentes, os quais vêm a ser considerados puramente arbitrários, portanto, não podem exigir sujeição, nem serem considerados legítimos. O objetivo da rebelião é introduzir uma estrutura social onde haja uma correspondência mais estreita entre o mérito, o esforço e a recompensa.
Rebelião # ressentimento
· A função dual do mito: a rebelião se sustenta sobre um novo mito, que serve como propulsor na busca de uma estrutura que presumivelmente não provocará frustração nos indivíduos merecedores. Por outro lado, o mito conservador pode assegurar que as frustrações estão na natureza das coisas e ocorrem em qualquer sistema social. O mito da rebelião e do conservadorismo trabalham na direção de um “monopólio da imaginação” em termos que encaminhem o frustrado à adaptação 5 ou o afaste dela.
Tendência à anomia
Quando a ênfase cultural muda da satisfação provinda da competição para a preocupação exclusiva com o resultado final, a tensão resultante favorece a ruptura da estrutura reguladora
O papel da família – A família é uma importante correia de transmissão na difusão dos padrões culturais em relação a geração seguinte. As crianças são estimuladas, não apenas por meios diretos, mas, também, pela convivência e observação constantes, a assimilarem determinados paradigmas.
· A projeção das ambições paternas sobre a criança – os pais podem tentar obter sucesso por procuração, através de seus filhos- projeção compensatória. Dedução: os pais “fracassados” exerceriam uma maior pressão sobre os filhos, estimulando o comportamento desviado, pois os meios legítimos não estão acessíveis justamente a essas camadas.
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*Este texto é o resumo de um seminário que apresentei sobre teoria sociológica contemporânea. Espero que seja útil para aqueles que buscam compreender as proposições de Robert K. Merton.
Bibliografia