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Sempre aproveito as férias para “dar um tempo” da leitura acadêmica e mergulhar de cabeça nos romances. Dessa vez caí na tentação dos best Sellers. O primeiro deles foi “Quando Nietzsche chorou” de Irvin Yalom. Confesso que não tinha grandes expectativas, portanto, não foi uma experiência frustrante. Quem tem certo conhecimento da filosofia nietzscheana e alguma informação sobre a história da psicanálise, perceberá que o livro não tem a pretensão de explorar de modo mais profundo nem uma coisa nem outra.
O enredo, misturando realidade e ficção, propõe um suposto encontro entre Friedrich Nietzsche e Joseph Breuer, precursor da terapia psicanalítica. Tal encontro fora arquitetado por Lou Salomé, mulher que despertou uma paixão desesperadora no filósofo. Sentindo-se culpada e temendo que Nietzsche suicidasse, Salomé roga a Breuer que o ajude a superar a angústia. Contudo, o médico experimentava um desespero semelhante, atormentado por um sentimento obsessivo por Bertha, personagem também real, ex-paciente que sofria de histeria e que ficou mundialmente conhecida sob o pseudônimo de Anna O. A trama se desenrola tendo como base a relação entre Breuer e Nietzsche. Os dois revezam na posição de médico e paciente. Por fim, surge uma amizade que transforma a vida de ambos.
O romance de Yalon não é um desafio intelectual, penso até que Nietzsche se reviraria no túmulo, caso isso fosse possível, ao ver sua filosofia sendo reduzida a algumas frases de efeito, mas o autor tem o mérito de saber contar uma história. Por esse motivo e pelas informações biográficas que o livro traz, afirmo que é melhor lê-lo do que perder tempo com Paulo Coelho.
O segundo livro foi “A cidade do sol” de Khaled Hosseini, autor que ficou mundialmente conhecido com “O caçador de pipas”. Por ter gostado desta obra – nem toda unanimidade é burra – esperava uma história a altura quando comecei a ler “A cidade do sol”. Não me decepcionei. Hosseini narra de forma clara e sensível, sem ser piegas, o drama de duas mulheres afegãs, Mariam e Laila, que não são donas dos seus destinos.
A narrativa desenvolve-se tendo como cenário três décadas de história do Afeganistão, focando, de início, a invasão russa em 1979. Dez anos depois, por causa da atuação dos mujahedins, supridos de armas pelos Estados Unidos, os soldados russos são expulsos. Mas a expulsão não trouxe a democracia, imperou a divisão, até que os fundamentalistas talibãs se apropriaram da maior parte do território. Os decretos dos “servos de Alah” evidenciam que a pretensão era a de se tornarem donos não só do país, mas, também, da alma do povo afegão. A milícia governou de 1996 até 2001, ano que eclodiu a guerra como retaliação aos atentados de 11 de setembro.
A perspectiva que prevalece no romance é feminina, procurando revelar toda dor que as mulheres afegãs são obrigadas a suportar para continuarem vivas em uma sociedade absolutamente androcêntrica. O escritor demonstra ter um compromisso com a realidade, portanto, não espere um sol radiante no final, o máximo que poderemos encontrar são lampejos de luz numa pequena fresta.