quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Sobre o urbanismo como modo de vida em Louis Wirth



Trazendo novamente para o centro do debate algumas questões trabalhadas por Simmel  em “A metrópole e a vida mental”,    Louis Wirth  propõe-se a analisar  o fenômeno urbano tendo em vista seus aspectos físicos e sociais. O autor inicia sua análise afirmando que o surgimento  das grandes cidades é o marco mais significativo para delimitar o que seria distintamente moderno na civilização ocidental. 
Conforme Wirth, existe uma  relação imbricada  entre a forma que as cidades assumem e o conjunto de disposições mentais, sociais e culturais que os citadinos desenvolvem. Assim, a cidade exerceria uma relevante influência sobre os  indivíduos, tornando-se, de certa maneira, o centro de controle de suas vidas.  Para explicar essa relação, o autor lança mão do conceito de urbanismo, definindo-o como uma série de características que compõem o modo de vida nas grandes cidades. A emergência desse novo modo de vida não ocorreria  a partir de uma ruptura brusca com o modo de vida rural. Desse modo, ele opta por uma análise que privilegia as continuidades entre as duas formas de organização social: campo e cidade. 
Vale ressaltar que  a “urbanidade”,  desdobramento do conceito de urbanismo,  transcende a questão territorial e de densidade demográfica. Wirth afirma que, na contemporaneidade, a lógica urbana tomou conta de todos os espaços. Nesse sentido, mesmo nas localidades rurais,  os padrões e valores tipicamente urbanos seriam preponderantes. Para melhor compreensão, o autor procura mostrar que a definição sociológica do conceito de cidade distingue-se daquela que é feita a partir do recenseamento e cujo  objetivo primordial é estabelecer os limites formais para administração. Na definição sociológica, a principal característica da cidade seria a existência de uma localidade onde se concentre de forma permanente um número relativamente grande de indivíduos socialmente heterogêneos.
  É preciso salientar que, sob a perspectiva de Wirth, embora a urbanidade  não se restrinja ao espaço físico e a densidade populacional, o grau em que ela se manifesta tende a ser maior nos lugares onde haja maior aglomeração de pessoas convivendo e maior heterogeneidade social, características essas que, por sua vez, aumentam as possibilidades de que ocorram tensões nervosas.  É importante ressaltar também que   a forma como os diferentes grupos sociais são distribuídos no espaço urbano não ocorre aleatoriamente, mas segue uma lógica urbana de classificação. Segundo o autor, as diferenças dão origem à segregação espacial com base na cor, etnia, na posição econômica e social e nos gostos e preferências. Ocorre também um enfraquecimento dos laços de parentesco, vizinhança e sentimentos que normalmente são compartilhados em comunidades mais tradicionais.
Como Simmel, Wirth  percebe a cidade como locus da individualidade, ela não só tolera, como também premia as diferenças. No entanto, isso tem seu lado negativo. O autor aponta conseqüências aparentemente ruins da vida urbana, tais como o distanciamento nos contatos sociais e  a impessoalidade das relações. Ademais, a inexistência de laços afetivos promoveria o espírito de competitividade e exploração recíprocas.
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WIRTH, Louis: O urbanismo como modo de vida. In Velho, Otávio (org.).O Fenômeno Urbano4ª ed. Rio de  Janeiro, Ed. Guanabara, 1987