A campanha da
Hope (marca de lingerie), estrelada pela Top Model Gisele Bündchen, tem sido alvo de diversos protestos. Não sem
razão, já que os comerciais reproduzem
antigos estereótipos que pessoas mais esclarecidas, independente de gênero,
lutam há tempos para derrubar. Neles, a
mulher brasileira é apresentada como
um ser dotado de natural sensualidade e é incentivada a utilizar essa arma para
resolver situações problemáticas com o esposo.
Qualquer
pessoa que tenha senso crítico um pouco mais aguçado poderá perceber que, do
início ao fim, os comerciais reforçam a ideia de que a mulher não é só sensual, ela é também péssima
motorista, financeiramente dependente do marido e limitada na sua capacidade
argumentativa, daí basta tirar a roupa e todos seus problemas serão resolvidos. Mais uma vez, a brasileira, especificamente, é revestida de uma imagem altamente
sexualizada.
Não sou da patrulha
do politicamente correto, penso até que existe um certo exagero, também não sou feminista militante. As causas
que me movem são aquelas em favor da dignidade humana, portanto, sempre me
colocarei em defesa dos grupos que sofrem qualquer tipo de opressão. Por isso, me senti impelida a escrever este post, sobretudo depois de ler comentários
de leitores no UOL sobre a notícia de que o governo pediu a suspensão das
propagandas.
A maioria
absoluta se posicionou contra o governo e a favor de que os comerciais
continuem sendo veiculados. Todos têm direito de manifestar suas opiniões e
devem ser respeitados, no entanto, é difícil
não ficar frustrada diante dos argumentos usados. Entre os mais recorrentes está dizer que as mulheres que
protestam são feias, invejosas, encalhadas, mal-amadas e uma série de outros
adjetivos semelhantes. Diante de argumentos tão boçais que põem em evidência o
atraso intelectual do povo brasileiro, é
difícil, como educadora, não ficar frustrada. Mais grave ainda é ver que as mulheres, de
modo geral, aprovam a campanha por achar que se trata de elogio, não conseguem
perceber a discriminação e o sexismo
explícitos, sim, porque o que passam não é uma mensagem tácita ou subliminar.
A conclusão
que podemos tirar disso é que o Brasil ainda não conseguiu oferecer formação
suficiente para que as pessoas desenvolvam algum nível de capacidade crítico-reflexiva. Só depois que os indivíduos estiverem
devidamente esclarecidos é que podem escolher, com mais legitimidade, como vão se
posicionar. No caso das
mulheres, particularmente, elas podem até optar por serem tratadas como objetos, mas não sem
antes saber que há outras escolhas possíveis.